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domingo, 2 de novembro de 2008

"ANTES QUE A NATUREZA MORRA"


MADEIRA ILEGAL - No início dos anos 80, promovi intensa campanha de conscientização pelos veículos de comunicação da cidade, contra a comercialização de madeira suspeita que estava sendo vendida na cidade e também na região. Além dos eucaliptos e acácias , cujo comércio era permitido, as lareiras,churrasqueiras e fornos a lenha de Santa Maria estavam sendo abastecidos por espécies da mata nativa, como branquilho, caneleira, camboim, aroeira, vassoura-vermelha e maricá. Foi louvável a atuação da PATRAM-Patrulha Ambiental da Brigada Militar e também da fiscalização do DRNR. Lembro que era comum nas ruas da cidade a presença de dezenas de carroças vendendo lenha cujo corte era proibido. Fiz ver à população que o corte dessas espécies só era permitido em três situações : corte seletivo de florestas, retirada de capoeiras e queda de vegetação resultante de vendavais. Muitas vezes vi os fiscais multando os contraventores, principalmente em frente de padarias, pois ali despejavam a madeira cortada para alimentar os fornos. Eu ficava a pensar que, por trás daquelas árvores cortadas existia um rastro de problemas, tais como : assoreamento de arroios e rios, falta de habitat para a fauna silvestre, destruição da flora nativa, aumento da erosão, aumento do aquecimento do solo que redundava em temperaturas mais altas. Apesar do esforço, há até hoje a tentativa do comércio irregular.
PROGRAMA PIONEIRO - Entre as minhas dezenas de arquivos, encontro um recorte da extinta "Folha da Manhã", de Porto Alegre, datado de 22 de agosto de 1978, contendo matéria com o seguinte título : "Há um ano, emissora fala em Ecologia". Reproduzo um trecho da matéria do jornal porto-alegrense : "O primeiro programa radiofônico do Brasil sobre Ecologia, comemora este mês um ano de existência. ANTES QUE A NATUREZA MORRA é apresentado todos os sábados pela rádio da Universidade Federal de Santa Maria, sendo considerado pelo Ministério de Educação e Cultura e pela RADIOBRAS como o programa pioneiro no país no sentido de conscientizar ecologicamente o povo. O programa é produzido e apresentado pelo professor James Pizarro, docente do Departamento de Biologia da UFSM". Registro que alguns colegas de rádio e da própria UFSM duvidavam que um programa deste tipo ficasse meio ano no ar. Pois ele ficou 26 anos no ar, ininterruptamente, sendo apresentado inclusive durante os meses de férias e durante os períodos de greve. Somente saiu do ar com a minha aposentadoria da UFSM.
TELEX ECOLÓGICO - Durante meus anos de serviço na UFSM e na rádio da instituição, sempre recebi apoio de todos os reitores. Sempre me permitiram usar o aparelho de telex instalado no gabinete da reitoria. Remexendo meus guardados, encontro cópia do telex datado de 12 de agosto de 1982, de número 0735, dirigido ao meu amigo pessoal Dr. Paulo Nogueira Neto, então titular da SEMA-Secretaria Especial do Meio Ambiente, órgão existente dentro do Ministério do Interior. O telex diz o seguinte : "Receba V. S. total apoio dos alunos da disciplina de Ecologia da UFSM e meu apoio pessoal,enquanto docente universitário, à carta enviada por V. S. ao Dr. Henrique Bergamin Filho, diretor do INPA-Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica. O público gaúcho é dotado de notável consciência ecológica e repudia experiências e estudos para a utilização de desfolhantes na Floresta Amazônica. Se tal se concretizar,coisa que espero não ocorra,o dedicado trabalho de V. S à testa da SEMA ficará totalmente desfigurado diante da opinião pública. Embora encravado no centro do Rio Grande do Sul, distante dos centros decisórios do país, este modesto professor universitário da área da Ecologia, tenta por todos os meios dar sua parcela de colaboração à causa do meio ambiente, certo de que o ecologismo é a única guerra santa deste final sombrio de século vinte". Por três vezes, tempo depois, o Dr. Paulo Nogueira Neto me convidou para ir à Brasília para participar de mesas redondas e seminários, pois ele sempre foi admirador da minha proposta de rádio ecológico educativo. A criação das "Estações Ecológicas" é idéia dele, sendo que a primeira delas a ser criada, em homenagem ao movimento ecologista gaúcho, foi a Estação Ecológica do Taim. Numa época de verbas curtas na UFSM, com dificuldade para a aquisição das famosas fitas de rolo para a gravação do "Antes que a Natureza Morra", me socorri do Dr. Paulo Nogueira Neto, tendo ele prontamente me atendido. Recebi em tempo recorde cerca de 500 fitas de rolo, marca BASF, de uma hora de duração, o que valia naquela época uma pequena fortuna.
BARRAGEM DA CORSAN - Para a construção da barragem Rodolfo da Costa e Silva, em nossa cidade, funcionando desde agosto de 1999, a CORSAN-Companhia Rio-grandense de Saneamento inundou 275 hectares de mata com 24 milhões de metros cúbicos de água. Para compensar tal impacto ambiental, atendendo pedidos do movimento ecologista e demonstrando notável sensibilidade ecológica, a empresa planejou o plantio de 274.000 mudas de árvores ao redor da área atingida. Essa providência foi acordada e sacramentada junto ao promotor público de nossa cidade. O cronograma do plantio das árvores foi cumprido num período de 4 anos. As primeiras 68.000 árvores foram mudas de guabiju, cerejeira, jambolão,araçá, cedro, erva-mate, ipê e igá. Os recursos gastos na obtenção e plantio das mudas foi de 237 mil reais, provenientes das tarifas de água. Quando o serviço público é sensível à proteção ambiental, tudo fica mais fácil.
RINCÃO GAIA - O Rincão Gaia, situado em Pântano Grande, sede rural da Fundação Gaia, foi idealizado pelo agrônomo e ecologista José Lutzemberger. Lá o planeta Terra é considerado um organismo vivo. E estão bem presentes, na prática, os conceitos de "Permacultura" (a comunidade deve ser autosustentável) e "Agricultura Regenerativa" (geração de insumos a partir de resíduos). O rincão, onde hoje está enterrado o Lutzemberger, era uma antiga pedreira, que tinha como destino ser depósito de lixo urbano. Em 1987, com o nascimento da Fundação Gaia, inicialmente apenas um experimento acanhado de paisagismo. Hoje é um centro de referência de educação ambiental e agricultura ecológica,jardim, lago, horta, estufas, pomar, galinheiro, chiqueiros e casa comunal, tudo criado dentro de um conceito holístico. GAIA é o nome poético dado pelos antigos gregos à deusa Terra. James Lovelock, pesquisador britânico, reintroduziu este nome nos anos 70 na apresentação da famosa "Hipótese Gaia". Segundo ele, a Terra é um sistema vivo, dispondo de mecanismos de auto-regulação que proporcionam a manutenção das condições ambientais necessárias à vida. Representa um modo holístico de se olhar para o planeta, enquadrando seres humanos como parte de um todo. Realizei uma série de entrevistas com meu amigo José Lutzemberger e veiculei as mesmas numa longa série radiofônica, propondo às escolas e aos cursos universitários de nossa cidade visitas de estudo ao Rincão Gaia.
TRITURADOR MECÂNICO DE GALHOS - Como se praticava em excesso a poda das árvores em ruas e avenidas de Santa Maria (o que ainda ocorre), nos anos 80 apresentei um longo arrazoado à Prefeitura Municipal solicitando que estudassem a possibilidade da compra de um triturador mecânico para resolver o problema dos galhos resultantes da poda. Eu tinha visitado a SMAN-Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em Porto Alegre, onde pude constatar a instalação da primeira central de tratamento de resíduos de árvores da capital gaúcha. Tal unidade possuía um triturador mecânico que transformava galhos de até 8 centímetros de diâmetro em composto orgânico. Por semana, se podia tratar 45 metros cúbicos de restos de poda. Galhos maiores eram aproveitados como lenha, cujos recursos daí resultantes eram depositados num Fundo Municipal de Meio Ambiente. Em Santa Maria, os galhos eram transportados para os aterros sanitários, onde não são aproveitados, resultando na diminuição da vida útil dos aterros por dificuldade de compactação, além do alto custo do transporte. Os galhos transportados por 8 caminhões, depois de triturados cabem em apenas um caminhão. Juntei fotos, anexei informações técnicas e protocolei a sugestão para as autoridades municipais. Até hoje estou esperando a resposta...

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