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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

PECUÁRIA DE CORTE E O PANTANAL


Pecuária e conservação

De acordo com o mapa de cobertura vegetal dos biomas do Brasil realizado pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA), o Pantanal Mato-grossense é considerado o ecossistema mais conservado do Brasil, com a maior percentagem de cobertura vegetal nativa (86,8%) e menor área com ação antrópica (11,5 %). Entretanto, praticamente 95% da região é constituída de propriedades privadas, das quais, 80% da área é utilizada para bovinocultura de corte a mais de 250 anos. O primeiro registro oficial de atividade pecuária na região data de 1737, fato que deveria ter conduzido o Pantanal para se tornar uma área com marcante ação antrópica. Então, como explicar uma região que é a maior planície inundável da terra, ocupada com atividade econômica há quase 300 anos, possa ser considerada o ecossistema mais conservado do Brasil?

A resposta envolve vários aspectos, sociais, ambientais e econômicos, importantes, mas se considerarmos uma tendência de correlação negativa entre pobreza e desequilíbrio ecológico, ou seja, quanto maior a pobreza de determinada região maior a pressão sobre os recursos naturais de maneira geral. A pecuária de corte enriqueceu e conservou o Pantanal. Assim sendo, a meta de conservação do Pantanal passa, necessariamente, pelo fortalecimento da bovinocultura tradicional dessa região. A sustentabilidade desta atividade econômica garante a conservação da região. Conclusão óbvia já escrita em publicações por diversos pantaneiros, mas, citando Nelson Rodrigues, "só os profetas enxergam o óbvio".

De maneira geral, a pecuária de corte é considerada uma atividade com forte impacto ambiental negativo sobre as regiões onde é desenvolvida no país. As generalizações são perigosas e, no caso do Pantanal, ocorreu e ocorre justamente o contrário, a pecuária de corte extensiva foi e é a garantia da conservação deste ecossistema.


Corumbá e o Pantanal

A planície do Pantanal em Mato Grosso do Sul é formada por nove municípios, Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Ladário, Miranda, Sonora, Porto Murtinho e Rio Verde. Estes municípios perfazem um total de 89.319 km2 (64.64% da área da planície), e o restante da área situa-se no estado de Mato Grosso (48.035 km2 ou 35,36 %).

Corumbá, que possui área total de 64.677 km2, pode ser considerado o município mais “pantaneiro”, uma vez que possui 61.819 km2 na planície, ou seja, 95,60 % da sua área municipal está na planície pantaneira. Além disso, 44,74 % da área total do Pantanal Mato-Grossense localizam-se no município de Corumbá.

As sub-regiões do Paraguai, dos Paiaguás, da Nhecolândia, do Abobral e do Nabileque possuem áreas dentro do município de Corumbá (Figura 1), sendo a Nhecolândia e o Paiaguás as mais tradicionais e de maior área, (19,60% e 19,48% , respectivamente da área total da planície pantaneira) para o desenvolvimento da pecuária extensiva de gado de corte, principalmente a fase de cria.

Assim, Corumbá, além de apresentar parte significante da planície pantaneira, possui a maior parte das duas principais sub-regiões que compõem o Pantanal Sul Mato-Grossense. Conseqüentemente, o fortalecimento da pecuária de corte é fator importante para o desenvolvimento regional do município.

De acordo a última estimativa do rebanho nacional realizado pelo IBGE datada de 2006, o município de Corumbá possui os maiores rebanhos de bovinos e de eqüinos do Brasil com 1.994.810,00 e 31.369 cabeças, respectivamente. Ou seja, 1% dos bovinos e 0,5% dos eqüinos do Brasil, estão nos Pantanais de Corumbá.

Visão de Cadeia Produtiva

Em dezembro de 2007, foi organizado e realizado em Corumbá – MS, pela Embrapa Pantanal e pelo Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), o Iº Workshop sobre a Cadeia Produtiva de Carne Bovina no Pantanal de MS. Este evento contou com a participação dos diferentes segmentos da cadeia produtiva bovina. Deste evento foi gerado um documento que em breve será disponibilizado no site da Embrapa Pantanal www.cpap.embrapa.br.

Os objetivos alcançados pelo evento foram:

1. Estabelecer visão sistêmica da cadeia produtiva bovina no Pantanal, definindo o papel dos diferentes agentes do processo e suas interações.
2. Definição dos problemas e das estratégias de ações, dentro dos critérios de sustentabilidade, com objetivo de promover a competitividade de toda cadeia produtiva no Pantanal, e subsidiar políticas públicas.
3. Formação de um Fórum da Cadeia Produtiva Bovina do Pantanal, visando à continuidade do processo.
4. Definição e priorização de linhas de pesquisas.

Tal esforço para entender a organização da cadeia é o início de um processo maior, no qual a pecuária da região está inserida como atividade base para a sustentação de toda cadeia produtiva da pecuária de corte do Mato Grosso do Sul. Entretanto, há necessidade dos tomadores de decisão darem o suporte para que o processo deslanche e realmente haja a sedimentação dos elos da Cadeia Produtiva de Carne Bovina no Pantanal de MS.

Assim como toda a comunidade, os governos de estados e de municípios podem contribuir para a sustentabilidade ambiental e econômica de suas regiões. O governo de MS possui um papel fundamental no processo, pois, por meio do consumo consciente nas compras para o estado, existe a possibilidade de fortalecer a cadeia. O consumo consciente pode ser didaticamente definido como ações cotidianas, concretas e voluntárias de consumo que permitem a qualquer pessoa ou instituição contribuir para a conservação do meio ambiente e melhorar a qualidade de vida de todos. Ou seja, o fortalecimento da atividade passa também pelo processo de conscientização da população e do estado em premiar quem produz por meio de sistemas de produção tradicionalmente sustentáveis.

Diferentes entidades estão em busca deste objetivo comum. Exemplo desta iniciativa são os projetos da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), a Embrapa Pantanal e o Programa Pantanal para Sempre (WWF-Brasil) que vão ao encontro do objetivo de garantir a sustentabilidade econômica, ambiental e social de toda região pantaneira por meio do fortalecimento da atividade pecuária na região e o conseqüente fortalecimento dos elos da Cadeia Produtiva de Carne Bovina no Pantanal.


Urbano Gomes Pinto de Abreu (urbano@cpap.embrapa.br) é pesquisador da Embrapa Pantanal
Sandra Aparecida Santos (sasantos@cpap.embrapa.br) é pesquisadora da Embrapa Pantanal
Leonardo Freire de Barros (virtut@terra.com.br)) é presidente da Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO)
Ivens Teixeira Domingos (wwfivens@terra.com.br) é Coordenador do Programa Pantanal para Sempre

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