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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O lixo nosso de cada dia se transforma em negócio lucrativo


Um R é igual a reduzir. Outro R pode significar reutilizar. E o terceiro, reciclar. Este conjunto de ações nunca foi tão importante. Em um cenário de centros urbanos cada vez mais congestionados, com a geração de montanhas de lixo, a solução para os resíduos tem que ser tratada como prioridade zero. O esforço conjunto, em modelo que envolve governos, empresas e a sociedade civil prevê inclusão social através de cooperativas de catadores, e tem lançado o Brasil como case de reciclagem no cenário global. O país é hoje campeão na reciclagem de latas de alumínio, por exemplo, com taxa de 96%. São aproximadamente 9,4 bilhões de latas no ano ou 26 milhões de latas recicladas diariamente. Também cresce a reciclagem de garrafas PET, latas de aço, vidro, papelão e outros materiais.
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Várias empresas estão envolvidas nesta verdadeira “cruzada” em defesa não apenas de seus interesses, mas também do planeta, em última instância. Seja em trabalho individualizado ou através de associações e institutos, o setor privado tem procurado agir também junto ao poder público e em ações educativas. ONGs também têm participado ativamente deste esforço coletivo e voluntários na causa procuram fazer sua parte. Que nos digam professoras de diferentes partes do país, empenhadas em ensinar aos alunos a importância de descartar os produtos em latas de lixo das cores certas e também a evitar consumos exagerados.

Desde pequeno

O jovem estudante Felipe d`Oliveira Meyohas, oito anos, estudante do 4º ano do Colégio Antares, no Rio de Janeiro, já sabe que é errado jogar óleo de fritura, por exemplo, no ralo da pia da cozinha. Como no seu bairro, Ilha do Governador (Zona Norte) não há coleta de lixo seletiva, ajuda os pais e dois irmãos a lavar e recolher garrafas PET e latas de alumínio que são enviadas todos os sábados para a igreja próxima, onde há parceria com uma cooperativa de catadores. A conscientização da família é permanente: as roupas passam de um irmão para outro e também para os primos; no lugar das sacolas de plástico, a família prefere bolsas retornáveis; pilhas e baterias de celular são descartadas em locais próprios e despedícios são evitados de toda forma. “Não dá trabalho. Basta cada um fazer um pouquinho para ajudar a salvar a Terra”, diz Felipe.

O Instituto Akatu tem trabalhado a questão da reciclagem dentro do seu esforço na defesa do consumo consciente. Como lembra o presidente do Instituto, Helio Mattar, um grande benefício da reciclagem é que reduz o volume de lixo de tratamento genérico, redirecionando parte dos materiais para serem reprocessados. “Dessa forma, há uma economia significativa de matéria-prima, água e energia, visto que para fabricar um produto a partir de material reciclado usa-se muito menos recursos naturais do que ao ser produzido a partir de matérias-primas virgens”, explica.

Mattar defende a participação ativa das empresas neste processo. Antes, observa, bastava à companhia fabricar um bom produto e vendê-lo a um bom preço para ser competitiva. Contudo, à medida que os impactos da produção e das relações das empresas com a sociedade foram sendo percebidos, os consumidores passaram a exigir uma nova postura dos fabricantes. “Hoje, não se admite que uma fábrica polua um rio ou que uma empresa não tenha um serviço de atendimento ao consumidor. Isso já é o esperado, e quem não fizer assim dificilmente vai sobreviver no mercado.”

Logística reversa

Há, porém, muito ainda a ser feito. Estima-se que apenas 3% de todo o lixo do país seja reciclado. Nos Estados Unidos ou na Europa, este percentual varia de cidade para cidade, mas pode chegar na faixa de 70% ou até mais. As vantagens do processo são imensas: cada 50 quilos de papel usado transformado em papel novo evita que uma árvore seja cortada e com um quilo de vidro quebrado faz-se exatamente um quilo de vidro novo. O setor de reciclagem como um todo movimenta hoje no país cerca de R$ 8 bilhões por ano, segundo dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre). Em 1994, 81 municípios faziam a coleta seletiva em escala significativa. Em 2004 este número avançou para 237, em 2006 para 327 e em 2008 alcançou 405 (cerca de 7% do total de municípios no país). “Precisamos ter políticas públicas bem definidas para que passemos rapidamente para um outro patamar”, recomenda André Vilhena, diretor-executivo do Cempre. Assim, esforços devem ser cada vez mais pensados no conceito de rede, envolvendo toda a cadeia produtiva, sem jamais esquecer o aspecto da inclusão social. E o lixo pode se transformar também em um grande negócio.

“Os avanços dos últimos anos são inquestionáveis. Mas será preciso avançar bem mais diante dos desafios que surgem”, adverte o consultor Carlos Rossin, sócio da Pricewaterhousecoopers. É fácil entender o que ele fala: a lei de resíduos sólidos está sendo discutida no Congresso e o que os especialistas chamam de Logística Reversa (conseguir fechar o ciclo do produto, retornando à origem) será essencial. “No mercado atual não há mais espaço para aquela empresa que pensa apenas em vender, sem se comprometer ou pensar nos efeitos para a sociedade durante todo o ciclo do produto. Até a hora do descarte”, alerta Rossin.

Exemplos das empresas

Várias companhias estão empenhadas neste esforço coletivo. Por diferentes frentes. A Tetra Pak, por exemplo, gigante na produção de caixas metalizadas que armazenam de leite a alimentos, criou uma rede virtual de coleta das embalagens longa-vida. Chamou de rota de reciclagem, com um recurso através de site na Internet, utilizando a tecnologia do Google Maps, capaz de apontar a localização e o contato de cooperativas, pontos de entrega voluntária de materiais recicláveis e comércios ligados à cadeia de reciclagem de embalagens pós-consumo no território nacional (www.rotadareciclagem.com.br).

A TIM, em parceria com o Banco Real (agora parte do Grupo Santander Brasil), estimula o descarte de baterias no programa “Papa-pilhas”, desde 1996. Em maio de 2009, atingiu a marca de 221 toneladas de pilhas, celulares e baterias usadas que foram recolhidas e destinadas para reciclagem. Somente neste ano já foram coletadas 60 toneladas em todo o Brasil. A gerente de sustentabilidade da TIM Brasil, Glória Rubião, acredita que os brasileiros estão começando a adquirir o hábito de descartar corretamente produtos eletrônicos, mas defende uma maior participação das empresas no trabalho de conscientização. “Vamos intensificar nossa ação neste sentido”, diz. A companhia incentiva também ações de reciclagem interna, como de papel e outros materiais. Todos os papéis usados em impressão são reciclados, assim como as contas que são enviadas aos clientes. “Se aparece algum papel branco sabemos que é de fora. Temos campanhas internas e hoje este já é um valor trabalhado intensamente por todos os funcionários”, diz.

Este ano, lançou o TIM PDV, solução que possibilita a compra de recarga pelos clientes nos pontos-de-venda. As transações são online e acontecem por meio de comandos no celular habilitado, dispensando a necessidade de cartões. Assim, há redução do consumo de plástico e papel, usados na produção dos cartões de recarga, e da emissão de CO² proveniente do seu transporte.

Na Embraer, fabricante de aviões, com sede em São José dos Campos, os compromissos com reciclagem estão impregnados ao longo de todo o processo produtivo. O Programa Embraer de Reciclagem Coletiva começou em 98: os funcionários participam ativamente da separação de todo o material, desde copos, papel, madeiras, pilhas e baterias, até o óleo de cozinha. Em média, 1,6 kg de resíduos por empregado mês foi reciclado em 2008. Isso significou 81% de todo o lixo gerado pela Embraer, ou 322 toneladas recicladas. Parte destes resíduos pode ser trocada com outras indústrias por novos produtos e itens reciclados. Através de uma central de resíduos orgânicos e de um depósito de resíduos industriais, todo o lixo e a sucata gerados passam por um processo de separação e seleção para só depois ter a destinação final adequada.

O Itaú Unibanco também tem uma série de ações que incentiva a reciclagem. “Este é um processo que precisa ter a adesão dos funcionários e colaboradores. Não adiante ser imposto. Precisa ser construído em conjunto”, observa Sonia Consiglio Favaretto, superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco. Para estimular este processo, em abril deste ano foi lançado o BIS - Banco de Ideias Sustentáveis, criado para estimular todos os colaboradores a refletir e a dar ideias sobre o tema sustentabilidade, com sugestões que possam ser colocados em prática no banco. Apenas na primeira semana de inscrições o programa recebeu 400 sugestões, e hoje conta com mais de 1.000 inscrições.

“A criação do BIS pretende conscientizar e mobilizar os colaboradores para as questões sustentáveis que envolvem a atuação do Itaú Unibanco. Muitas vezes a ação sustentável está ali, poderia ser implementada, mas não recebe a devida atenção para ser colocada em prática. Queremos estimular este momento de reflexão e dar foco a atitude assertiva de cada funcionário”, afirma Sonia.

Novo processo para PET

Os exemplos, felizmente, brotam por todos os lados. A Coca-Cola Brasil também partiu para a ação há alguns anos, com um conjunto de práticas, dentro da plataforma Viva Positivamente, que vai desde o uso eficiente e racional da água, passando pela preocupação com suas embalagens até práticas mesmo diretas de reciclagem. “Não é uma ação isolada. A Coca-Cola em todo o mundo tem esta preocupação”, diz Marco Simões, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil. O chamado Sistema Coca-Cola Brasil (formado por fábricas franqueadas) utiliza 2,08 litros de água para cada litro de bebida produzido, incluindo o litro que vai dentro da embalagem, um dos melhores índices da indústria do mundo. E em reciclagem também é um case global.

A grande novidade, aguardada com ansiedade pelo mercado consumidor, será a inauguração, provavelmente ainda em 2010, da primeira fábrica brasileira de garrafas PET que produzirá a embalagem a partir da reciclagem de material, a chamada bottle-to-bottle. Alguns grupos já testam a tecnologia e a corrida entre os fabricantes é quem sairá na frente. Antes, a legislação não permitia esta produção. “Será, sem dúvida, uma mudança de patamar. Fábricas deste tipo já existem nos Estados Unidos, Europa e México, por exemplo,”, observa José Mauro de Moraes, diretor de Meio Ambiente da Coca-Cola Brasil. Ele prevê que deva ocorrer por aqui o mesmo fenômeno já visto nos outros mercados, em um círculo virtuoso: o aumento da demanda pela resina reciclada, agregará valor à cadeia de suprimentos, o que favorecerá especialmente catadores e cooperativas de catadores. Outro importante ganho com a utilização deste processo, explica, está ligado ao meio ambiente porque, com o processo, haverá menor utilização de matéria-prima virgem, o que economiza petróleo. A expectativa é que nos próximos 10 anos, até 25% da resina PET utilizada no Brasil seja material reciclado.

A Coca-Cola também incentiva ações de reciclagem, através do programa Reciclou, Ganhou, lançado em 96. Hoje, o programa apoia 70 cooperativas de catadores em 17 estados brasileiros (foto). Além de estimular a reciclagem através do apoio direto às cooperativas, o programa também engaja os consumidores. Uma parceria do Instituto Coca-Cola Brasil com a rede de supermercados Wal-Mart já criou 284 estações de reciclagem. A iniciativa envolve os consumidores e ainda contribiu para os altos índices de reciclagem no país.

Crianças

A Associação Brasileira de Latas de Aço (Abeaço) tem intensificado o trabalho educativo com escolas. Em 2007, fez o Aprendendo com o Lataço, com o objetivo de ressaltar as vantagens da lata de aço na busca de um consumidor mais consciente de suas escolhas. No ano passado, em parceria com a Gerdau estendeu o projeto para duas lojas do Carrefour. A parceria que leva o nome Aprendendo com o Lataço a Reciclar, aconteceu durante as inaugurações das estações de reciclagem nas lojas do Carrefour. As crianças, que foram acompanhadas dos pais para fazer as compras ou apenas para levar resíduos para coleta, puderam participar de oficinas de reutilização e produzir objetos feitos a partir de latas. Além disso, foram passados conceitos de reciclagem, pós-consumo e reutilização de material. Também foram montadas estações de reciclagem, em parceria com a Gerdau e Carrefour, voltadas para adultos e crianças.

“Em 2008, no Brasil, atingimos 47% do índice de reciclagem das latas de aço o que representa mais de 290 mil toneladas de aço retornando ao processo de fabricação do material”, afirma Thays Fagury, gerente executiva da Abeaço. Países como Alemanha, Holanda e Áustria chegam a reciclar quase 80% do total de embalagens de aço pós-consumo.

Polêmica

O plástico tem sido visto, nos últimos tempos, como verdadeiro “vilão” do mundo moderno. Não é para menos: cada saco plástica demora cerca de 400 anos para se desintegrar no meio ambiente. O Brasil consome 12 bilhões de sacolas plásticas por ano e cada brasileiro usa cerca de 66 sacos por mês, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).Sacolas plásticas passaram a ser trocadas pelas charmosas eco bags em diferentes pontos do planeta, inclusive em terras brasileiras.

O Grupo Pão de Açúcar, um dos primeiros a comercializar e estimular o uso das sacolas retornáveis, já vendeu mais de 600 mil unidades de ecobags. Uma sacola retornável chega a substituir até oito sacolas plásticas, o que neste caso significa a economia de 4,8 milhões de embalagens plásticas e seu descarte no meio ambiente. Há sacolas em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica e no Extra (do mesmo grupo) com a Casa Hope, com 100% de PET reciclado. O lucro obtido com a venda vai para estes parceiros. São vendidas sacolas em ráfia e outras que se encaixam nos carrinhos.

Lançado em 2005, o projeto de comercialização de sacolas retornáveis está disponível também nas redes Extra e CompreBem e chega agora ao Sendas e ABC CompreBem. A rede também tem estações de reciclagem, estimulando os clientes a descartar embalagens nas suas lojas. Recentemente, para incentivar ainda mais o uso das sacolas retornáveis, foi lançado um programa de incentivo, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc: quem quiser usar as ecobags ganha pontos que são trocados por vale-compras. A ação começou em São Paulo, em março e já contabilizou mais de 500 mil pontos em 100 mil compras até fim de abril.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), Merheg Cachum, diz que todos os produtos são recicláveis, inclusive o plástico, que não pode ser desprezado ou visto como “vilão”. “Se um saco vai parar em um bueiro, não foi sozinho. Alguém jogou ele ali. Precisamos ter mais ações educativas. O plástico é muito útil e faz parte de nossas vidas.”

O setor criou o Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), justamente com este objetivo mais educativo e para tentar desmistificar esta polêmica em torno do produto. Já existe no Brasil, a reciclagem do tipo química e mecânica do plástico, mas é a energética, segundo Francisco de Assis Esmeraldo, presidente do Plastivida, que poderá, em breve, revolucionar esta relação.

“Com investimento e tecnologia nacional já existente, estes resíduos poderiam ser tratados em Usinas de Recuperação Energética, transformando-se em energia elétrica e térmica, por meio de processo industrial que não agride o meio ambiente”, explica Esmeraldo.

De olho no espaço para o plástico biodegradável, a Bunge acaba de lançar o creme vegetal Cyclus Nutrycell, com a primeira com embalagem plástica biodegradável, proveniente de fonte renovável. Fabricada com o moderno polímero PLA (sigla em inglês para poli-ácido lático), obtido a partir da fermentação do amido de milho, a nova embalagem do creme vegetal Cyclus Nutrycell se decompõe em até 180 dias após descarte adequado. O projeto da nova embalagem envolveu dois anos de testes e pesquisas.

Inclusão social

Várias ações educativas e de inclusão estão sendo praticadas em todo o país. ONGs, como a Recicloteca, a Doe seu lixo, fundada pela atriz Isabel Fillardis com a família e diversas cooperativas (Martesãs, Árvore da Vida, Ciclo Ambiental, etc) que transformam lixo em luxo.

Atualmente, com a crise econômica, a atividade das cooperativas de catadores foi bem afetada. O preço da sucata despencou. O quilo do ferro para reciclagem caiu 62% em São Paulo, por exemplo, de novembro do ano passado até fevereiro deste ano. Como mostrou reportagem da Agência Brasil, as entidades de catadores foram à Brasília reivindicar providências do governo. “Do mesmo jeito que as empresas recebem incentivos fiscais e econômicos dos governos federal estadual e municipal, nós também queremos ajuda. Até porque são as cooperativas as verdadeiras geradoras de emprego”, afirmou o coordenador do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Roberto Laureano.

Estima-se que haja cerca de 800 mil catadores de material reciclável no País. A absoluta maioria não tem carteira assinada e é responsável por parte significativa do processo de reciclagem, mas fica apenas com uma fatia pequena do lucro. Se a remuneração não é alta, tem um efeito multiplicador imenso. A inclusão social a partir das cooperativas é um fator que também tem diferenciado o Brasil como modelo avançado. “Isso é muito interessante”, orgulha-se o diretor do Cempre, André Vilhena. Este know-how social está sendo “exportado” para outros países, como Peru e República Dominicana.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), maior financiador da produção nacional, tem apoiado também algumas destas cooperativas. Em 2007, foram apoiados 34 e em 2008, 23 novos projetos. Foi realizada pesquisa com integrantes de cooperativas de catadores de materiais recicláveis apoiadas pelo Banco detectando avanços significativos na qualidade de vida dos cooperados e de suas famílias.O questionário foi respondido por 59% dos 2.032 catadores que trabalham em cooperativas apoiadas pelo BNDES. As respostas mostram que houve melhora no relacionamento familiar (82%); nas condições de higiene dos cooperados (79,6%); na alimentação dos cooperados e da sua família (78,85%) e no conforto das moradias (69,3%). Outros avanços evidenciados foram a melhoria no ambiente de trabalho e no relacionamento entre os cooperados, bem como na consciência em relação aos seus direitos e deveres.

O jornalista Sérgio Adeodato, veterano especialista em Meio Ambiente, visitou várias destas cooperativas de catadores no “mergulho” de cuidadosa pesquisa para preparar retrato preciso sobre o processo de reciclagem no Brasil. A primeira cooperativa do país foi a Coopamare (Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis) a partir de um pequeno grupo de catadores, reunidos no Centro de São Paulo em 1989. “É um trabalho de muito valor social”, conta. O resultado pode ser conferido no livro “Reciclagem - ontem, hoje e sempre”.

O livro relata que a reciclagem no mundo começou no pós-Segunda Guerra e no Brasil pelas mãos do Grupo Klabin. Muitos anos, avanços tecnológicos gigantescos e chegamos ao estágio atual.

Lei de Resíduos

Tramita no Congresso nova proposta de Política Nacional de Resíduos Sólidos, cujo relator é o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP). Seu relatório final está para ser votado. O relator, já apresentou uma minuta que reformula o texto analisado há três anos. A nova versão da proposta, se aprovada pelo grupo, será levada ao Plenário como alternativa ao relatório da comissão especial. Entre as principais medidas previstas no novo texto, está a proibição da importação de pneus usados e de outros resíduos. Além disso, as empresas que fabricarem ou colocarem no mercado agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos e lubrificantes ficarão responsáveis pela destinação adequada dos resíduos desses produtos.

Segundo Arnaldo Jardim, o Brasil está atrasado em matéria de gestão de resíduos sólidos, pelo fato de não contar ainda com uma política nacional que oriente a atuação dos órgãos governamentais nas diferentes esferas da federação. “Muitas vezes, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) legisla nessa área, devido à ausência de uma lei geral”, afirmou.

Em entrevista à Plurale em revista, o ministro das Cidades, Marcio Fortes, disse que o ministério contribuiu com a elaboração do anteprojeto. “Criamos uma grande expectativa em torno dessa política, que tem interface com a Lei do Saneamento. Teremos, a partir dele, um instrumento legal que dará sustentabilidade às obras hoje executadas em parceria com as prefeituras, que contribuirá, também, para a organização da prestação do serviço e para a inclusão social dos catadores.”

Algumas prefeituras estão mais avançadas no trabalho, outros menos. Em um ponto é certo. O setor privado e a sociedade podem fazer parte do trabalho, mas apenas políticas públicas conseguirão realmente transformar este quadro para um novo patamar. “A nova política nos fará dar um salto em termos de gestão dos resíduos”, acredita André Vilhena, do Cempre.

No Rio, a vereadora Aspásia Camargo (PV) fez a lei da Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos. A Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pode ser definida como a maneira de conceber, implementar e administrar sistemas de Limpeza Pública considerando uma ampla participação de toda a administração pública e dos setores da sociedade, com a perspectiva do desenvolvimento sustentável envolvendo as dimensões ambientais, sociais, culturais, econômicas, políticas e institucionais.

Biogás

Em alguns casos, o setor privado de olho no lucro do lixo tem avançado. Para quem não sabe, não só a reciclagem, mas também a queima de lixo e até mesmo aterro sanitário - com perspectiva de geração de créditos de carbono - podem, nas mãos de gestores privados, se transformar em negócio lucrativo. No Rio, recentemente, a Novo Gramacho Energia Ambiental inaugurou nesta sexta-feira, dia 5, a Usina de Biogás do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, que produzirá por meio da decomposição de matéria orgânica do lixo cerca de 160 milhões de metros cúbicos de biogás por ano. A energia gerada com a produção de biogás será equivalente à de gás natural consumida pelas residências na cidade do Rio, evitando a liberação de 75 milhões de metros cúbicos de metano por ano na atmosfera. O projeto, o maior do Brasil em redução das emissões de gases de efeito estufa, demandará investimentos de R$ 91 milhões até a sua fase final - dos quais R$ 41 milhões já foram aplicados. O restante será investido na purificação do gás e no seu transporte, além de obras de compensação ambiental. O projeto da Novo Gramacho é também o maior do mundo em crédito de carbono em aterro sanitário com aprovação da ONU, com estimativa de obter 10 milhões de créditos de carbono em 15 anos de atividade. O papel de cada consumidor - seja individualmente ou através de pressão junto às autoridades públicas - também é muito relevante. Como reforça Helio Mattar, do Akatu, só haverá uma mudança de comportamento de consumo se o consumidor se der conta de que pequenas atitudes, repetidas ao longo do tempo, fazem muita diferença. “Dessa forma, é possível mostrar ao consumidor que seu ato individual de consumo, ao longo de sua vida, tem um impacto importante sobre a sociedade e o meio ambiente.” É importante também, acrescenta Mattar, que cada consumidor se perceba como um multiplicador de seu modelo de consumo. “Todos juntos fazem muita diferença, mesmo em pouco tempo.” É nisso que precisamos acreditar. O planeta agradece.

Faça sua parte - Recicle ao máximo. Torne-se um militante. Se no seu bairro não tem coleta seletiva, procure cooperativas próximas ou supermercados que recolham material - Aprenda a reciclar. Não se pode misturar o lixo orgânico, ou molhado (resto de comidas, folhas, etc) do lixo seco, que será reciclado. Em alguns condomínios grandes já há coleta separada por cada item - latas, PET, papel, etc - mas se não for o seu caso, pode separar apenas a parte reciclável, bem seca e limpa (vidros, PET, latas, papel, etc) e depois procure como vai descartar corretamente este material - Atenção, alguns materiais não são recicláveis. Exemplo: metalizados, fita crepe, papel higiênico, papel toalha, fotografia, adesivos e etiquetas. - Evite produtos com muitas embalagens (aqueles com uma caixa de papelão imensa apenas para um pacotinho dentro). Vários mercados já incentivam o descarte destas caixas ali mesmo na loja - Nunca jogue gordura usada no ralo da pia. Várias cidades já contam com ONGs e empresas que recolhem gratuitamente o óleo - Faça uma busca em casa e veja a quantidade de lixo eletrônico guardado. Descarte corretamente pilhas e baterias de celulares - Sempre que possível troque as sacolas de plástico e por sacolas retornáveis (ecobags). Como em alguns casos é inevitável o plástico, procure reaproveitar os sacos para o lixo e cobre do estabelecimento que utilize material oxibiodegradável - Recicle também roupas e material que não usa mais.

Vários sites úteis:

- Instituto Akatu - http://www.akatu.net/

- ONG Recicloteca - http://www.recicloteca.org.br/Default.asp

- Rota da Reciclagem - http://www.rotadareciclagem.com.br/index.html

- Cempre - http://www.cempre.org.br/

- Lixo.com.br/ Consciência Ambiental - http://www.lixo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=12&Itemid=26

- Doe seu lixo - http://www.doeseulixo.org.br/
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FONTE : Sônia Araripe é editora de Plurale em site. Esta matéria especial é destaque na edição 12 de Plurale em revista. http://www.plurale.com.br
Crédito da imagem: CEMPRE (Envolverde/Revista Plurale)

Um comentário:

Mimirabolante disse...

Amigo.....Ainda tem o R de REPENSAR e o R de RECUSAR.....Ótima a postagem !!!!